Os Colonizadores (Jesuítas,
Criadores de Gado e o Estado Luso-Espanhol), a Conquista de Sergipe e a
Fundação de São Cristóvão
Kéfus Ibrahim Santana Cardoso
O
Brasil desde o início de sua colonização foi território de grandes extensões;
por este motivo, pelas poucas condições financeiras da Coroa Portuguesa em
coloniza-lo e pela preocupação do rei português D. João III em perder essas
terras para outros pretendentes, este decide dividir o território em 15 partes
que chamaram-se Capitanias Hereditárias, cada uma destas possuía um dono
chamado “donatário”, este por sua vez tinha o dever de proteger e garantir o
progresso das terras que haviam sido posto em seu comando.
A
história da colonização de Sergipe inclui-se nesse contexto, pois, as terras
sergipanas faziam parte da capitania da Bahia de Todos os Santos, e como todas
as outras, esta possuiria um donatário, “foi assim, [...], que o Rei de
Portugal, D. João III, em 05 de abril de 1534, fez doação de 50 léguas de
terras, contadas desde a ponta da baia de Todos os Santos até a foz do rio S.
Francisco, ao fidalgo Francisco Pereira Coutinho” (MONTALVÃO, 1916, p. 15-16)1,
que posteriormente por ter se desentendido com os índio locais, foi morto e
devorado pelos Tupinambá. Com isto, as terras que lhes foram dadas passaram a
ficar sob comando do seu filho Manoel Pereira Coutinho “que, por não dispor de
elementos necessários, cedem à coroa as ditas 50 léguas de terras doadas, nas
quais estava incluindo o território sergipano”. (MONTALVÃO, 1916, p. 15-16)2.
Observa-se
então que os índios não tiveram contato com os colonizadores só em 1590, mas
bem antes, isso fica mais claro quando os portugueses percebem que a conquista
e colonização de Sergipe é necessária. O Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa cita
em um dos seus materiais alguns pontos que visam o desejo dos portugueses em
conquistar Sergipe:
1.
Estabelecer a continuidade territorial entre a Bahia e Pernambuco;
2.
Eliminar a influência francesa no Rio Real;
3.
Arrebatar às tribos tupinambás a região entre o Rio Real e o São Francisco, e
garantir sua posse pelo povoamento e pela ocupação efetiva do solo.
(SOUSA, 2007, p. 209)3.
Com
tais propósitos, os portugueses em 1575 enviam os padres Gaspar Lourenço e João
Salônio para perto do rio Real com o objetivo de catequisar os índios; “Ao
evangelho e não às armas; à paz e não à guerra, entregou-se à conquista da
nossa capitania” (FREIRE, 1977, p. 00)4. E foi aí que atuaram, como
diria Pires Wynne no seu livro História
de Sergipe, os “inteligentes pioneiros, penetradores dos sertões e
semeadores da fé”.
Porém,
Thetis Nunes afirma que antes de 1575, essas terras teriam sido ocupadas por
colonos: “Extravasando do Recôncavo Baiano, a expansão baiana caminhou em busca
do Rio Real com a doação, em 1563, a Tomé de Souza, de oito léguas por costa e
cinco para o sertão, terra depois vendida a Gárcia d`Avila”(Nunes, 1996, p. 15)5.
Não
demorou muito para os jesuítas conquistar a confiança dos tupinambá, “conseguindo
a colaboração dos grandes caciques Serigi, Surubi e Aperipê” (NUNES, 1996, p.
226)6, gerando uma relação amistosa, fato que facilitou muito o seu
trabalho nesta região.
“Vieram
do Rio Real muitos indios principaes das aldeias comareans que estão naquellas
partes: quarenta, cincoenta e sessenta leguas desta cidade, todos em grande
desejo de levar padres que os ensinassem as cousas de sua salvação” (FREIRE,
1977, p.71)7.
Tempos
depois, D. Sebastião, rei de Portugal, ordena ao governador-geral do Brasil,
Luís de Brito, que o território sergipano fosse conquistado, com isso, os
portugueses fizeram invasões e ataques em algumas aldeias daquela região
provocando a fuga dos índios locais. Segundo Lenalda Andrade Santos e Terezinha
Alves Oliva na obra “Para conhecer a
História de Sergipe”, interpretam este fato com “pretexto para que as
tropas do governo atacassem os índios provocando muitas mortes e a escravização
daqueles
que
não conseguiram fugir.” (SANTOS e OLIVA, 1998, p.30)8.
Foi
com esta interrupção ao trabalho de catequese que findou-se a tentativa de
conquista dos índios através da religião. Com isto e o abandono português
naquela região, “os índios puderam voltar a viver livremente. Assim, continuaram
a receber a visita de naus franceses, a sofrer os ataques de colonos vindos da
Bahia e também a revidar, atacando e destruindo suas propriedades.” (SANTOS e
OLIVA, 1998, p.30)9.
Enquanto
tudo isso acontecia em solos sergipanos, as capitanias da Bahia e de Pernambuco
almejavam cada vez mais esse território, porém, seria preciso que os índios
dessa região fossem dominados e obrigados a trabalhar nessas terras que seriam
tomadas. Para tanto, os portugueses, em 1587, conseguiram a aprovação da corte
portuguesa em guerrear contra os índios com a nomenclatura de Guerra Justa,
dando-lhes o direito de matar e aprisionar os que sobrevivessem às lutas.
Nesse
período, Portugal estava sob domínio da Espanha, formando a União Ibérica, e
foi no final de 1589 que Cristóvão de Barros, a mando do rei Luso-Espanhol
Felipe II, contando com a força de um grande exército saíram da Bahia para
lutar contra os índio da futura capitania de Sergipe Del Rey.
Mais
uma vez os materiais do Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, deixa claro sobre o
assunto:
A guerra contava com a
presença de vários portugueses, baianos, pernambucanos e mamelucos. Ainda
segundo Whynne, havia 28 nomes de destaque nessa guerra, dentre eles o todo
poderoso dono da Casa da Torre.
A base da guerra foi a
“Casa da Torre”, do famoso Garcia d’Ávila. Diversos pesquisadores assinalam a
presença de 3.000 brancos, 1.000 mamelucos e 1.000 índios e muitos outros gentios
que foram capturados e postos a serviço da guerra. A organização contava na
vanguarda com Antonio Fernandes, e na
retaguarda com
Sebastião de Farias. Além destes comandantes, havia as lideranças dos irmãos
Álvaro Rodrigues e Rodrigues Martins. (SOUSA, 2007,
p. 209)10.
Por
mais que o Cacique Baepeba incentivassem os seus índios, estes não conseguiram resistir
ao ataque. No dia 1º de Janeiro de 1590, com um número de 2.400 índios mortos,
4.000 escravizados e mais tantos outros que fugiram para o sertão, Cristóvão de
Barros vence a guerra. Com isto funda-se a capitania de Sergipe Del Rey abrindo
caminhos entre Bahia e Pernambuco.
Acerca
disso comenta a pesquisadora Lilian da Fonseca Salomão: “Sergipe permaneceu uma
espécie de dobradiça entre duas capitanias importantes, Bahia e Pernambuco. Os
rebanhos baianos utilizavam esse espaço para pastar e deslocar-se”. (Salomão,
1996, p.
111)11.
E
conclui Maria Gorete da Rocha Santos: “Os objetivos da Coroa eram alcançados.”
(SANTOS, 1995, p. 88)12.
Por
outro lado Beatriz Gois Dantas mostra o lado dos vencidos que intensificaram,
por interferência dos colonos, as guerras inter-tribais, foram aprisionados e
até abusados sexualmente por aqueles que agora ali dominavam.
A
Bahia neste período desenvolvia-se intensivamente no tocante ao cultivo da cana
e ao fabrico de açúcar, com isto, precisava cada ver mais da força animal que
servia para transportar as cargas de cana do canavial aos galpões, para fazer
girar as moendas de onde se estraria o caldo da cana transformando-se
posteriormente em açúcar, também para levar este açúcar para os portos de
embarque e, por fim, fornecer carne como alimento para os moradores. Então,
tudo isto serviu de estimulo para que as fazendas de gado se espalhassem pelo
território sergipano. Mas vale ressaltar que não foi apenas a procura de gado
pela Bahia e Pernambuco que fizeram de Sergipe um grande criador de gado, as
boas qualidades dos pastos também foi fator que contribuiu para o crescimento
da pecuária sergipana.
Foi
através daí que aconteceu a expansão do povoamento em direção ao sertão e
agreste sergipano. Foi ainda a pecuária a atividade mais importante de Sergipe
até o século XVIIII, fornecendo gado não somente as regiões vizinhas, mas
também aos engenhos que
surgiam em Sergipe, além de abastecer regiões que cresciam, como Propriá, Estância,
Santo Amaro, Laranjeiras e a capital São Cristóvão.
A
pecuária foi também uma atividade que influenciou no surgimento de novas
povoações, como por exemplo: Curral de Pedras (Gararu), Campos do Rio Real
(Tobias Barreto), Campo do Brito, Malhador, Porto da Folha, Nossa Senhora da
Glória, Riachão do Dantas, Aquidabã e Simão Dias.
Observa-se
estão, que a pecuária foi uma atividade de suma importância para formação
sergipana, assim Lenalda Andrade Santos e Terezinha Alves Oliva dizem: “foi a
pecuária a atividade que forneceu a base para a organização da economia e da
sociedade sergipana.” (SANTOS e OLIVA, 1998, p.32)13.
Foi
também nesse período de pós-conquista de Sergipe (a partir de 1590) que o
conquistador e primeiro Capitão-Mor de Sergipe, Cristóvão de Barros, funda o
Arraial de São Cristóvão para ser sede do governo, passado a ser chamada depois
de Vila de São Cristóvão e passa a distribuir lotes de terras, as chamadas
“sesmarias”, para aqueles que ali quisessem fixar residência.
Tempos
depois, Cristóvão de Barros deixa a capitania e escolhe Tomé da Rocha como o
novo Capitão-Mor de Sergipe, este por sua vez começa a criar gado e a plantar
cana-de-açúcar na região fundando finalmente a cidade de São Cristóvão.
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1, 2 MONTALVÃO, Elias. Meu Sergipe. Aracaju: Impressa Oficial, 1916.
3 SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe I. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2007.
4 e 7 FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. Petrópolis: Vozes/Governos do Estado de Sergipe, 1977.
5 e 6 NUNES, Maria Thetis. Sergipe colonial II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
8 e 9 SANTOS, Lenalda Andrade e OLIVA, Terezinha Alves. Para conhecer a História de Sergipe. Aracaju, Opção Gráfica, 1998.
10 SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe I. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2007.
11 SALOMÃO, Liliam da Fonseca. A lenta penetração portuguesa no Brasil. O caso de Sergipe d’El Rey, território marginal. Cadernos UFS - História. São Cristóvão: DHI/PDPH/EDUFS, 1996. p. 105-115.
12 SANTOS, Maria Gorete da Rocha. Sergipe: Geografia/História. I. Título. São Paulo: FTD, 1995.
13
SANTOS,
Lenalda Andrade e OLIVA, Terezinha Alves. Para conhecer a História de Sergipe.
Aracaju, Opção Gráfica, 1998.
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